babbo: entao e a Vanessa está boa?
io: sim, ta optima!
babbo: e ela já arranjou um italiano?
io: não pai, nem ela nem eu!
babbo: ainda bem, assim é que se quer!!!
Não sou de todo uma pessoa que acredita em tudo o que lhe dizem mas também não descarto tudo à primeira. Num destes dias num jantar na da Ângela e Juliana, juntou-se um grupinho no quarto delas e cada um fez algumas perguntas às quais a Ângela respondeu com o seu barulho e conhecimento de Tarot. Fui a primeira. Perguntei sobre o meu regresso a Portugal, perguntei pelo futuro profissional, perguntei pelo meu babbo e perguntei se me virias ver cá a Florença. É preciso perceber que aquilo não dá respostas nem lê o futuro, dá-te dicas do que poderá vir a acontecer sendo portanto muito subjectivo como quase tudo nesta vida. Não gostei nem desgostei, não acreditei nem desacreditei, achei piada a algumas coincidências e fiquei curiosa por uma sessão a sós com a Ângela.
Domingo depois de almoço decidimos ir explorar a cidade mas primeiro passámos na casa dos tugas do Cartaxo que estudavam italiano para conhecer a mansão que tem uma caldeira de água quente tão pequena que o último a tomar banho já não a apanha quente e ainda vão chegar mais 2 pessoas para morar lá, e foi lá que nos surgiu a ideia de apanharmos o bus 7 e ver onde aquilo ia dar e digo-vos já que foi a decisão do dia. Eu e a Van acabámos numa cidade pequena num monte ao lado de Firenze que proporciona uma magnifica vista completa desta, o nome da cidade é Fiesole. Fica mesmo perto de Firenze, sempre a subir, mais parece uma vila antiga com ruas fofinhas e calminhas longe da confusão turística; pergunto-me como depois de um mês em Firenze ainda não tínhamos ouvido falar desta terra. Ao fim da tarde no aperitivi já espalhámos a palavra e já combinámos que no próximo fim-de-semana que ficarmos por cá temos de lá voltar com o gang todo, mas já no próximo fim-de-semana não vai ser, porque o próximo, esse é para ir a terra que lida ao contrário dá AMOR.
Para nós aqui em casa já não é novidade que as nossas duas espanholas fazem com cada prato recheado de gordura e molhos e cenas congeladas e chocolates ao pequeno-almoço. Mas este almoço foi qualquer coisa: tinham no forno duas pernas de frango e batatas mas o forno estragou-se então decidiram passar aquilo para o fogão mas sem mudar para um tacho ou frigideira, teve de ser a Van a aconselhá-las a fazê-lo, então veio a frigideira cheia de óleo a espirrar aquilo por todo o lado e a cagar o espaço todo; não felizes com aquele óleo já todo negro ainda espetaram lá as batatas numa tentativa de as fritar e antes ainda as meteram uns 3 minutos no micro-ondas (não perguntem o porquê)! Como é obvio o frango demora um bom tempinho até estar cozinhado mas elas ignoraram esse facto e quando ele já estava douradinho por fora elas acharam que já estava bom e quando se sentaram e lhe espetaram a faca e constataram o óbvio mais uma vez ignorando o lógico o que é que elas fizeram?!!? O que o que??! Não adivinham de certeza… meteram o frango no… micro-ondas!! Não fiquei para ver o resultado porque achei que já era demais para a minha pobre pessoa e apenas comentei com a Van que se a ASAE cá aparecesse por casa fechava-nos a cozinha e punha um sinal de perigo de contaminação à porta.
Sento a Vanessa na sua cama e eu na minha frente a frente e puxo de forma séria o assunto que ela no seu inconsciente sabia que mais tarde ou mais cedo teria de ser discutido: os despertadores. A Van tem um problema patológico com os despertadores que se resume a eles se recusarem a funcionar apenas por um dia quando ela os liga mas sim a funcionarem todos os dias até alguém (eu) os ir desligar. A Van simplesmente não consegue que eles funcionem apenas na manhã seguinte porque eles assumem automaticamente a opção “todos os dias” e então quando eu caio no erro de dizer: “mete também tu o despertador para amanhã” porque temos de acordar mais cedo que o habitual, todas as manhãs seguintes acordo com aquele som horrível e sempre a horas indesejadas. Mas ela abraçou de frente o seu problema e estamos agora num programa de combate a este. Rezem para que a Van consiga superar este problema e seguir a sua vida em frente
Bonito bonito foi quando depois de estarmos meia hora ao frio em Perugia à espera do comboio para regressar a Firenze e depois de termos lutado pelos nossos lugares todos juntinhos conseguimos ficar numa carruagem cheia de espaço e lugares confortáveis como tudo e estávamos todos contentes porque “aaaaaísh estes lugares são muito melhores que os outros, com tanto espaço vou dormir na boa e tal…” e ao mesmo tempo passa o pica e informa-nos que temos de mudar de carruagem porque se quisermos CONTINUAR NA PRIMEIRA CLASSE temos de pagar a diferença! Opah mas que deficiência, que ingenuidade nossa pensarmos que tínhamos tido a sorte de pela primeira vez estarmos num comboio decente… de cabeça baixa fomos em busca de lugares na maldita segunda classe que estava a abarrotar mas com o passar das paragens lá ficou melhorzinho e reagrupámos com destino à nossa cidade e a um Alho Francês à Brás feito na casa da Sara e da Marta às 10 e tal da noite mas que reconfortou o estômago para uma noite tão merecida de sono descansado!
Mais uma vez metemo-nos à estrada, desta vez com mais companheiros de viagem o que permite finalmente ter o desconto de grupo e os destinos foram Assisi e Perugia. Assisi chegou até nós através de uns senhores que falaram com a Van e lhe disseram que não se podia ir embora de Itália sem lá ir e Perugia porque é a Fiera Anual de Chocolate.
Por volta das 10h30 chegamos à vila medieval que honra o português São Francisco de Assis e ganhámos duas companheiras de viagem brasileiras que se colaram com uma pinta genial porque “ah mamãe a gentxi vai fazê o percurso desses meninos porqui parece gostoso e depois dxi eles seguirem para a outra cidadxi a gentxi vê o resto como quisé!”
A vila lembra os filmes de época rodados neste país, com ruas muito estreitinhas, casas de pedra e vasos de flores nas janelas e como “alguém” disse: dá vontade de fazer amor com tudo. Até agora está no topo dos melhores sítios até agora juntamente com S. Giminiano.
Depois de alguma correria porque mais uma vez fomos sem planos nem horários preparados lá apanhámos o comboio de 20 minutos até Perugia e aí sim minha gente, a confusão instalou-se! Ninguém conhecia nada daquela cidade nem fazia ideia do que existia para ver sem ser a Feira de Chocolate e óbvio, ninguém fazia ideia de como ir para o centro por isso olhámos para um mapa que estava na saída da estação e metemo-nos ao caminho, e para onde?! Para a frente porque para a frente é que é o caminho, só que este caminho tirou-nos praticamente uma hora da nossa tarde porque além de ser a subir tínhamos de estar constantemente a parar para pedir indicações, mas enfim a coisa lá se deu e encontrámos o centro e a feira, entretanto a meio caminho perdemos uma companheira de viagem e foi de bradar aos céus para a termos junto de nós outra vez mas mais uma vez a coisa lá se deu! Tirámos uma foto com o coelho da Nesquik e provámos a novíssima Philadelphia de Milka e minha gente não se deixem levar pelo aspecto quando a dita chegar até vós, se o desejo apertar mesmo mais vale uma barrinha verdadeira de chocolate. No meio das toneladas de chocolate e de pessoas o ponto de turismo iluminou-se à nossa frente e conseguimos finalmente um mapa mas o problema foi chegar até aos locais porque estava tanta gente mas tanta gente naquele centro histórico que eu só pensava que se isto for assim em Roma temos de levar uma corda a ligar-nos ou então é cada um por si; acabámos portanto por não ver praticamente nada da cidade mas isto é o que acontece quando se subestima o amor que esta gente tem ao chocolate.
Esta semana levámos o gang todo e o filme foi Into Paradiso, percebemos metade e a outra metade adivinhámos pelos gestos
Esta sexta feira passada finalmente juntámo-nos com os portuguesas que vieram do Cartaxo com o mesmo destino que nós. Entre eles está a Pipi, colega de casa da Van dos tempos de faculdade e deu logo ali para fazer a ponte. Combinei com a Pipi e fui buscá-los depois das aulas de italiano para virmos cá para casa fazer o jantar e juntarmos os tugas todos. Digo-vos já que soube mesmo bem ter a casa cheia e puder falar português e pedirem que dessem dicas sobre a cidade como se nós já fossemos uns grandes entendidos na coisa. A noite acabou com já habitual passagem pelo bar dos shot’s e decidimos entrar 5 minutos num bar/discoteca mas como aquilo eram só gringos, apalpões e empurrões acabámos por vir para casa e claro, tivemos logo 3 inquilinos no chão do nosso quarto. No sábado a coisa repetiu-se desta vez na casa do Tiago e do Jorge e pelo menos para os meus lados com mais álcool à mistura --,
As coisas agora estão melhores minha comunidade, nada de pânicos. Já me ambientei mais ao sitio e às pessoas e estou a começar a entrar no ritmo do trabalho! Já estou bastante mais autónoma no que toca a decidir em quais actividades vou participar e em ajudar os utentes. Ainda me custa passar as actividades a fazer o trabalho de uma educadora mas a ideia já se entranhou e já tenho as minhas três actividades de eleição, sendo elas: bricolage, estética e giornalino. A actividade de bricolage dá para interagir mais com a mestre responsável que é uma comédia e muito simpática, parece uma verdadeira artista tirada de um filme! Estética para quem me conhece sabe que pintar as unhas é comigo por isso gosto bastante de puder interagir com as utentes enquanto elas me ficam agradecidas por as ter posto mais belinas, e o giornalino é uma actividade só à sexta feira com um mestre que vem do outro centro de propósito e a actividade baseia-se em ele puxar pela cabecinha deles e fazê-los pensar em coisas mais básicas e é óptimo para mim porque é onde aprendo mais algumas coisas de italiano visto que é a única actividade onde se está sempre a falar. Basicamente as coisas estão a melhorar e espero chegar ao fim com a sensação de missão cumprida.
Minha gente, fui a Torres Vedras e voltei! É verdade, quando entrei na feira de spadicci podia jurar que estava na feira de São Pedro na minha cidade natal, a única diferença é que esta tem uma linha da Tramvia no meio e farturas com nutella! Não são de chorar por mais porque a massa é mesmo da típica fartura portuguesa e não do churro porque se aquilo fosse a massa do churro com nutella até me vinham as lágrimas aos olhos!
I studenti di sinistra são pelo que percebi até agora o equivalente ao bloco de esquerda aí do burgo, e eles apoiados por algumas empresas aqui deste burgo organizaram umas sessões de cinema à borlix todas as segundas feiras quatro sessões por dia, dois filmes por dia. Na segunda passada o nosso filme de eleição foi uma comédia italiana que pelo pouco que apanhámos se baseia na história de um “wanna be máfia” que se candidata a presidente da junta lá da vila e faz de tudo para angariar votos. Ainda deu para dar umas risadas mas a piada da coisa foi o ambiente universitário que se viveu nos momentos de espera do inicio da sessão… as formas de vestir, as conversas que apanhámos no ar, as substâncias consumidas… lembrou-me Beja, lembrou-me a universidade e lembrou-me das saudades que tenho desse ambiente! Por isso agora todas as segundas lá estaremos batidos para saborear o ambiente, melhorar o italiano e fazer tentativas pioneiras e arrojadas de nos infiltrarmos no ambiente universitário da cidade que até agora está a ser difícil de encontrar!
8h30 de mattina in nostra stanza:
van: nao sabes o que a espanhola gorda fez
marta: conta
van: eu fiz cafe para mim e para ti e pus logo na chavena para lavar a cafeteira
marta: ai que a puta bebeu o meu cafe
van: naaaaao!
marta: mandou fora?!
van: naaaao!
marta: aqueceu o cafe que lhe sobrou de ontem e bebeu?!
van: nao... apontou para a chavena onde tava o teu cafe e disse: "esta chavena é minha! fui eu que comprei no ikea..." e vaza o teu cafe para outra chavena e utiliza a "dela"
marta: ...................................................................................
Sabato lá demos continuidade à nossa saga “Descobrindo a Toscana” e fomos ver a famosa Torre Inclinada e as paisagens da cidade medieval. Pisa excedeu as expectativas que iam muito em baixo porque toda a gente dizia que aquilo “ah e tal vês a Torre, tiras a fotografia e tá a andar de Pisa” e eu hoje digo-vos “ah e tal se fores a Paris só de de olhos postos na Torre Eiffel, vais lá, tiras a foto e tá a andar de França”… meus amigos, tá a olhar para lá do horizonte pah! A terra não é nada por aí além mas não desgostei de todo, tem uma arquitectura menos elaborada que outras cidades mas a meu ver também bonita, tem a dezenas de turistas a fazer as melhores e piores poses imaginárias com a Torre e claro, montes de barraquinhas de mercato onde se pode comprar uma t-shirt com o Bart Simpson a empurrar a Torre (depois hei-de colocar uma foto comigo a envergar a minha orgulhosamente).
Lucca por sua vez ficou um pouco aquém das expectativas porque muita gente dizia que aquilo era lindo lindo e então quando lá chegámos foi um pouco aquela cena do “ah é só isto?!”, mas é bonita sim senhora e muito característica e passear pelas muralhas vale a pena. Allora, para animar a nossa tarde nós como somos pessoas dadas a alguma aventura decidimos alugar uma espécie de carrinho-bicicleta de 5 lugares e quatro pedais e foi a comédia total! Aquilo é um bocadito complicado de se guiar porque as dimensões da coisa não são fáceis principalmente para quem vai atrás que passa metade do caminho “cuidado que vais bateeeeeer!!!”, mas valeu a pena e demos gargalhadas para o resto do dia e divertido também foi quando a Ângela e o Tiago se aperceberam que aqui a je não tem carta e andava a conduzir aquilo em plena Lucca pelas ruas estreitinhas cheias de carros e de turistas (muahahahahah).
Já de volta a casa fomos até o Centro Poiso, local de estágio da Célia, onde tinha decorrido durante o dia uma feirinha e debates sobre a agricultura biológica e de noite estavam em palco os bobo rondelli e foi um concerto de trazer as lágrimas aos olhos pelas parecenças com a banda portuguesa Kumpanhia Algazarra e todas as lembranças que vieram. O concerto foi numa sala pequena com maior parte das pessoas sentadas e a absorver as boas vibrações e depois de um mês nesta cidade senti-me como se estivesse no meu meio ambiente.
Essa sensação acabou quando eu e a Vanessa sozinhas, fomos para a paragem de autocarro à meia-noite no meio de um bairro social com duas meninas da vida a 100 metros de nós, a uma das quais tivemos de ir perguntar se ainda ia passar algum autocarro, porque depois de quase meia hora ali à espera já não estava só a esperar mas também a desesperar…